Vamos combinar que o mês de junho é uma maravilha para quem é chegado num forrozinho. Isso sem falar no milho, canjica, bolo, amendoim e pra quem pode e gosta, o saboroso licor. Outra grande característica da época são os fogos de artifício, que costumam alegrar pessoas de todas as idades, principalmente as crianças. E mesmo com o decreto estadual que antecipou o feriado de São João – por conta da pandemia -, o que a gente mais vê são bombas pipocando pelos quatro cantos de Salvador. Mas não se engane, para quem tem animais em casa, um simples “traque” tem a capacidade de transformar o mês de junho num grande pesadelo.
A professora Clarissa Cunha sabe bem o que é isso. Ela é tutora de Lizy, uma SRD de quatro anos. “Nesse período ela fica muito agitada. Qualquer pequeno barulho já a incomoda. Seja um traque de massa ou qualquer barulho que se pareça com fogos ela começa a latir. Late o dia inteiro! Até quando deita para descansar ou dormir, fica rosnando e latindo”, relata.
Acalmar o animal em uma situação de estresse e medo não é tarefa fácil. Segundo Clarissa, vários foram os truques, mas até hoje nada adiantou. “Eu tento ficar próximo dela, deito com ela, mas não adianta muito. Fecho todas as janelas, ficamos trancados em casa. Já tentei vários truques que me ensinaram, mas nada surtiu efeito. Já pensei em procurar [um veterinário] para saber de algum calmante ou outra coisa que a deixe mais calma. Tenho medo dela ter algo mais grave porque ela fica com o coração muito agitado. Tenho receio que ela tenha uma parada cardíaca”.
A medica veterinária Ariane de Jesus Lacerda explica que a audição dos cães é bastante aguçada, e se comparada a dos seres humanos, um cachorro consegue ouvir quatro vezes mais. “Esse barulho [dos fogos de artifício] ocasiona nos cães a sensação de medo, estresse, angustia e ansiedade, os quais podem vir a desencadear quadros convulsivos, alterações cardiorrespiratórias, fugas das suas residências”. Existem casos em que as consequências podem ser ainda mais graves, como o óbito. “Principalmente naqueles que possuem doenças associadas, idosos e aqueles que são vítimas de acidentes nas ruas”, completa.
Mestre em Ciência Animal nos Trópicos com ênfase em Oftalmologia Veterinária, Ariane dá dicas para que o tutor tente amenizar o sofrimento dos cães, não só nos festejos juninos como também nas festas de final de ano. “O ideal é manter os cães em locais que eles se sintam seguros e abrigados, sob a supervisão do seu tutor ou alguém que ele confie. Evitar que fiquem sozinhos, pois podem se sentir desprotegidos, optar por um ambiente onde o animal se sinta confortável, de preferência onde o barulho externo seja abafado. Evitar trancar o animal em um cômodo da casa, não pender o cão com coleiras e correntes para que não ocorram acidentes e tampar os ouvidos com tufos de algodão também podem ajudar. E buscar ajuda do veterinário para interver sempre que necessário”. Ainda de acordo com a veterinária, é importante também submeter o animal desde filhote a técnicas de adestramento, para que assim ele possa ser mais tolerante a barulhos externos.
Sobre a técnica do pano, que consiste em envolver o cão com tecidos para estimular a circulação sanguínea, amenizar as tensões e diminuir a irritabilidade, a médica veterinária afirma que diversos estudos científicos já foram feitos, mas cada animal reage de uma maneira.
“Acredita-se que a pressão exercida pelo pano provoque alterações a nível de sistema nervoso, ocasionando nos cães a sensação de relaxamento e redução do estresse. Porém é importante lembrar cães que nunca utilizaram roupas e acessórios podem permanecer imóveis e estáticos passando ao tutor leigo a falsa sensação de funcionalidade da técnica, sendo esta outra maneira dos cães também demonstrarem medo”. Ariane ressalta ainda que é preciso ter bastante cautela com a pressão exercida pelas amarras, afim de não causar danos circulatórios ao animal.
Durante os festejos juninos é imprescindível estar atento, pois o comportamento do animal diz muita coisa sobre a saúde e bem-estar do animal. “Observa-se a agitação, o medo, a ansiedade, alguns tem vocalização excessiva, alterações respiratórias, tremores, inquietação e muitos procuram um local que se sintam seguros para se esconder. Podem também apresentar apatia, perda de apetite (hiporexia) em decorrência dos fogos de artificio. Tudo que atrapalha a qualidade de vida e o bem estar do animal deve ser reportado ao veterinário. [E] o mais importante é nunca tentar por conta própria medicar seu animal e buscar ajuda profissional do veterinário de confiança”.
Fonte: BNews
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